3. CORAGEM LEGIONÁRIA
Toda profissão requer de seus membros uma coragem especial e considera como
indignos os que não a possuem. A coragem característica exigida pela Legião é a coragem
moral. Quase todo o trabalho legionário se resume no trato com as pessoas para as
aproximar de Deus. Este trabalho proporciona, por vezes, mágoas ou incompreensões, que
se manifestam em efeitos menos mortíferos que os das armas de guerra, mas enfrentados –
como a experiência o prova – com menos valor. De milhares que desafiaram com bravura
uma chuva de balas, dificilmente encontraremos um que não estremeça diante da simples
possibilidade de uma zombaria, de palavras rudes, de uma crítica grosseira, de um sorriso de
caçoada ou do receio de que julguem que está a pregar ou a exagerar santidade.
“Que vão pensar de mim? Que dirão?” – tal é a reflexão que causa calafrios em
muitas pessoas que deviam alegrar-se, como os Apóstolos, de serem achadas dignas de
sofrer insultos pelo nome de Jesus Cristo (At 5, 41)
Se não se reage contra esta timidez, vulgarmente chamada respeito humano, o
trabalho de apostolado a favor do próximo reduz-se a uma bagatela. Olhemos ao redor e
vejamos os estragos que ela produz. Os fiéis vivem em toda parte no meio de numerosos
pagãos ou de não-católicos ou de católicos não praticantes. Cinco por cento destes se
converteriam, se alguém tivesse a coragem de lhes apresentar, individualmente, a doutrina
da Igreja. Estes cinco por cento seriam uma brecha que facilitaria a conversão em grande
escala. Mas ninguém dá um passo sério neste sentido. Os católicos bem desejariam fazer
alguma coisa, mas o veneno mortal do respeito humano paralisa-lhes as forças. Apresentese com os rótulos de “prudência elementar”, “respeito pelas opiniões alheias”, “empresa
inútil”, “esperemos ordens”, ou outras semelhantes, o efeito é sempre o mesmo: paralisa a
ação.
Conta-se, na vida de S. Gregório que, estando para morrer, perguntou aos que o
rodeavam quantos infiéis havia na cidade. “Só dezessete”, responderam sem vacilar. O
Bispo moribundo, depois de refletir um instante, declarou: “Foi exatamente o número de
fiéis que encontrei aqui, quando fui sagrado Bispo”. Achou dezessete crentes e deixou
dezessete descrentes. Que prodígio! Pois bem, a graça de Deus não se esgotou com o passar
dos séculos. Hoje, como outrora, a fé e a coragem podem conseguir êxitos idênticos. O que
falta aos católicos não é precisamente a Fé, mas a coragem.
Convicta disso, a Legião travará luta sem quartel contra a maligna influência do respeito
humano em seus membros. Primeiro, opondo-lhe uma saudável disciplina; segundo,
ensinando os legionários a considerarem o respeito humano como um soldado considera a
covardia, e a atuarem com a convicção de que o amor, a lealdade e a disciplina pouco
valem, se não levam ao sacrifício e à coragem.
Um legionário sem coragem! Que diremos dele senão as palavras de São Bernardo:
“Que vergonha ser um membro delicado sob uma cabeça coroada de espinhos!”
“Se lutais só quando vos sentis dispostos para o combate, que merecimento
podereis ter? Que importa que não tenhais coragem, se vos comportardes como se a
tivésseis? Se sentis preguiça para apanhar um fio do chão e, todavia, o apanhais por amor
de Jesus, tendes mais merecimento do que se fizésseis uma ação mais nobre num impulso
de fervor. Em lugar de vos entristecerdes, alegrai-vos, porque Nosso Senhor, deixando-vos
sentir a vossa própria fraqueza, vos oferece ocasião para salvardes maior número de
almas.” (Santa Teresa de Lisieux)
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